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O Brasil, esse adolescente rebelde

Com Lula, o Brasil viveu um momento de vacas gordas, saiu da miséria e perdeu o complexo de inferioridade ante o mundo

Juan Arias

O Brasil está em plena rebeldia. É um adolescente que se revoltou contra os pais, os políticos. Dizem que ninguém sabe o que quer quando quer tudo. E de repente. E, sem esperar, sai quebrando o mundo.

O incêndio que a sociedade vive está atraindo às ruas principalmente adolescentes e jovens que nunca viveram uma ditadura nem os de massas nas ruas sem a proteção de um partido ou uma instituição política. Eles se lançaram sozinhos em campo.

O curioso é que o chamado “pai dos pobres” do Brasil, o carismático ex-torneiro e ex-presidente Lula, é o único que ganharia hoje as eleições no primeiro turno. E já se começa a ouvir o grito de “Volta, Lula!”, embora ele diga que não vai se candidatar.

Será que Rousseff está indo pior do que Lula? Claro que não. Ela tem outro estilo, mas segue o ex-sindicalista, a quem consulta nos momentos de crise. Se Lula foi o pai, principalmente dos pobres, Rousseff foi apresentada como a mãe que continuaria cuidando dos mais necessitados.

Será que com Lula a corrupção política foi menor do que agora? Não. Pelo menos no início ela chegou a tentar conter a represa que estava transbordando.

O transporte público funcionava melhor com Lula? Não, era igual. E os hospitais, as escolas e a segurança pública, funcionavam melhor? Não. Talvez com eles dois tenham melhorado, mas isso não basta para os brasileiros que descobriram o gosto adolescente da rebeldia e do protesto.

A pergunta então é por que a credibilidade da presidente está afundando e as ruas querem a volta de Lula. Talvez os psicólogos possam explicar.

O motivo de o Brasil, e até a oposição, ter ficado mudo e anestesiado durante os oito anos de Lula, feliz de ser um país que causava inveja no planeta, pode ser explicado mais pelos sociólogos e psicólogos do que pelos economistas.

Com Lula, o Brasil viveu um momento de vacas gordas, saiu da miséria e perdeu o complexo de inferioridade ante o mundo. Mas naquele momento o país era uma criança. E a criança não questiona o pai, ela o admira, principalmente quando ele a enche de brinquedos, a convence de que o pai cuida dela e lhe dá o que sabe que ela precisa, embora às vezes não seja o que gostaria.

Aquela criança cresceu e ficou adolescente. A barba ou os peitos cresceram. E, de repente, percebeu que quer mais que brinquedos. Quer liberdade. Quer opinar. Quer poder se rebelar contra o pai ou a mãe. Freud é sempre atual.

A ambientalista Marina Silva comentou que o Brasil “recuperou a voz” e “quer mais, mas quer de outro modo”. Quer como um adulto. Não quer apenas que respondam aos seus desejos, mas quer fazer as perguntas.

Quando as crianças e os jovens começam a perguntar os adultos tremem, se desnorteiam.

Quando eu era menino, o meu pai era professor rural na Galícia pobre. Eram a época da ditadura. A palavra de ordem do regime franquista era “obedecer”. O meu pai intuiu que um dia os jovens sairíamos do túnel da ditadura e construiríamos uma democracia e nos estimulava a “perguntar”. Ele dizia: “Nunca se cansem de fazer perguntas aos adultos.” Ele nos explicava que só as perguntas abriam novos caminhos e ajudavam a crescer.

Um dia, ele recebeu uma carta do governo. Tinha sido castigado porque, segundo o regime, os alunos que saíam da sua escola para o ensino médio “faziam perguntas demais” e, além disso, “se negavam a obedecer ordens”.

O Brasil não vive em uma ditadura. A sua democracia é sólida, mas aquelas crianças cresceram e aprenderam que lhes oferecem respostas a perguntas que não fizeram quando, na verdade, neste momento deviam ouvir as suas perguntas.

O silêncio e a proibição de perguntar são típicos das ditaduras, enquanto o ruído das perguntas e dos protestos nas ruas, com todos os perigos que possam trazer, são um sintoma do crescimento dos valores democráticos. E só a democracia pode assegurar a defesa dos direitos humanos e dos desejos de um Brasil que ficou adulto de repente e, portanto, quer ser tratado como tal.

O problema é que democracia este Brasil adolescente rebelde deseja. Certamente, para as novas gerações, a dos seus pais já não é suficiente. Este modelo está esgotado. Elas pertencem a outro mundo e as vestes democráticas que lhes querem impor lhes parecem fora de moda.

Elas não pedem o impossível, como as suas antecessoras rebeldes de 68. São tecnológicas e pragmáticas. Elas simplesmente querem o possível. Como não lhes dar razão?

Tradução: Cristina Cavalcanti

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