_
_
_
_

Chile tem a campanha eleitoral mais polarizada desde a queda de Pinochet

As eleições presidenciais deste domingo definirão o modelo de desenvolvimento do país

A candidata Michele Bechelet, durante a campanha
A candidata Michele Bechelet, durante a campanhaM. BERNETTI (AFP)

A campanha presidencial chilena, que terminou nesta quinta-feira, a três dias das eleições, conforme prevê a legislação eleitoral, foi a mais previsível dos últimos anos pelo triunfo quase certo da ex-presidenta socialista Michelle Bachelet. E também a mais polarizada desde o plebiscito de 1988, que acabou definindo a retirada do ditador Augusto Pinochet dois anos mais tarde.

Desde o triunfo da oposição sobre a ditadura, Chile viveu um ciclo político marcado pelo estabelecimento da democracia, a superação dos índices de pobreza e o início de políticas sociais, como a reforma judicial e sanitária. Após os protestos sociais de 2011, no entanto, se iniciou um debate sobre o modelo de desenvolvimento para o futuro do país e os nove candidatos que pretendem chegar ao Palácio de La Moneda dia 11 de março têm visões encontradas sobre o melhor caminho a tomar.

Nesta campanha, pela primeira vez desde o plebiscito, entraram com força na agenda política iniciativas como mudar a Constituição, realizar uma grande reforma tributária, ensino público gratuito e até a renacionalização do cobre, entre outras propostas. A frase se repete entre os analistas: o Chile mudou de ciclo e isso se refletiu nesta corrida presidencial. “Após 20 anos surgiu um debate profundo sobre o modelo adotado e ideias para a mudança. Há algo disso no último discurso da direita: está em jogo o futuro do país”, assinala o colunista Andrés Benítez, reitor da Universidade Adolfo Ibáñez.

A campanha não foi dura em termos de enfrentamentos. Consciente de seu favoritismo nas pesquisas, que a situam em um cômodo primeiro lugar com um 47% de apoio, Bachelet evitou os confrontos com os outros oito candidatos nos últimos debates televisivos. A ex-diretora da ONU Mulheres tratou de manter seu perfil de líder internacional, embora há uma semana sua equipe acusou seu atual governo de cem casos de intervencionismo.

A candidata da direita, Evelyn Matthei, foi a que mais subiu o tom da discussão. Apostando em melhorar seu resultado eleitoral e forçar um segundo turno — ela está em segundo lugar nas pesquisas, com 14% de intenção de voto —, a postulante da direita criticou a ex-presidenta por suas despesas de campanha. Matthei também denunciou que o candidato Franco Parisi, um empresário populista que está em terceiro lugar nas pesquisas com 10%, mantinha dívidas trabalhistas com os empregados de seus colégios.

“Existe uma diferença entre os conflitos verbais e a radicalização ideológica. A campanha de 1999 entre Ricardo Lagos e Joaquín Lavín foi a que teve mais confronto, mas menos ideologizada”, aponta o professor da Escola de Governo da Universidade do Desenvolvimento Eugenio Guzmán.

Conocer lo que pasa fuera, es entender lo que pasará dentro, no te pierdas nada.
SIGUE LEYENDO

Para o analista do Centro de Estudos Públicos, David Gallagher, existem vários fatores que contribuíram para polarizar a agenda de campanha. Um aponta os protestos estudantis de 2011. Outro se refere à comemoração dos 40 anos do golpe militar em setembro, que se centrou na discussão sobre o pinochetismo e com o presidente Sebastián Piñera criticando a direita por ter sido um “cúmplice passivo” durante a ditadura.

“A palavra neoliberal faz tempo que é mal vista no Chile (…), mas isso não significa que o governo vá mudar o modelo. Bachelet é uma mulher pragmática”, acrescenta.

Nem nas campanhas de 1993, 1999, 2005 ou 2009 a ideia de realizar mudanças profundas no sistema esteve no centro dos debates. Desta vez, a discussão acontece com a centro-esquerda fora do poder —depois de 20 anos de Governo— e após a forte autocrítica que marcaram seus debates internos, quando Piñera chegou à presidência em 2010. “Por um lado está Bachelet e algumas candidaturas antissistema e, por outro, está Evelyn Matthei defendendo o modelo de desenvolvimento”, sustenta o analista Max Colodro.

Para alguns observadores, o debate polarizado foi motivado também pela queda do candidato da direita, Laurence Golborne. O ex-ministro de Mineração, que liderou o resgate de 33 mineiros em 2010, foi forçado a renunciar por ocultar uma empresa em sociedade nas Ilhas Virgens.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_