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África No es un paísÁfrica No es un país
Coordinado por Lola Huete Machado
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As longas guerras do Sahel

Autor invitado: Jonuel Gonçalves (*)

A inicial expansão islamica nesta longa faixa não decorreu de operações militares, como no Egito ou no Magreb. Comerciantes àrabes foram o elemento principal no processo, ajudados em seguida por alguns pregadores, embora no caso oeste africano a revolução Almoravida tenha tido influência. Neste lado do Sahel, o começo da presença muçulamana teve lugar no século XI, com características de religião das camadas dirigentes (ou religião da Corte). Só mais tarde evoluiu para religião popular, no termo de um longo percurso que, em certas àreas da sub-região, durou até ao século XVI.

A entrada islamica na costa oriental africana é anterior, havendo indicações de sua presença nos atuais Quênia e Tanzânia desde o século VIII.

No século XV, Tombuctu fazia parte do imaginario arabe e europeu, em virtude de historias dos viajantes árabes sobre o impacto do comércio de ouro. Mesmo estas histórias tendo sido bastante atenuadas em seguida, manteve-se o lado simbólico da cidade. Na mesma época, Mogadiscio foi celebrada como grande centro urbano e comercial em cronicas portuguesas, sobretudo do historiador João de Barros.

Desde finais do século XX, as duas cidades - e seus respectivos países - voltaram aos grandes noticiários em virtude da implantação de importantes redes ligadas à Al Qaida. No caso maliano, tratou-se de mais uma influência procedente da vizinha Argélia, com a mudança de nome pelo Grupo Salafista pela Oração e o Combate transformado em Al Qaida do Magreb Islâmico (Aqmi) hoje mais ativa no Sahel ocidental (Mauritania, Mali, Niger) que na Argélia onde foi fundada.

Uma aliança de facto foi criada entre Aqmi, o Movmento pela Unicidade e Jihad na Àfrica do Oeste (MUJOA) e o movimento Ansar Edinne, dirigido por um influente lider Tuaregue, contrario á independencia regional e favoravel à aplicação da sharia (lei coranica) em todo o Mali. O MNLA que tinha conquistado as cidades de Kidal, Gao e Tombuctu, foi desalojado militarmente por estes movimentos, enquanto o exército maliano, com poucos efetivos e material reduzido, retirou. O Mali fiocu dividido.

Humilhados pela derrota e culpando os políticos de Bamako, capital maliana, oficiais malianos executaram um golpe militar que pôs fim ao regime democratico existente no país e até então considerado dos mais consolidados em todo oeste africano. A Comunidade Economica dos Estados da Àfrica do Oeste (CEDEAO) promoveu um acordo de regresso a governo civil; na pratica os militares golpistas permanecem muito influentes. Ao mesmo tempo, a CEDEAO propôs-se enviar uma força armada de Estados membros para refazer a unidade do país. Tambem lançou uma iniciativa de mediação, conduzida pelo Presidente do Burkina Faso, na qual um dos objetivos pirncipais é afastar o Ansar Edinne da aliança com os jihadistas.

Esta semana, o Ansar Edinne, o MNLA e uma delegação do governo do Mali encontraram-se na capital burkinabense, Uagadugu, em negociações preparatórias para uma solução política. Isto não impede o prosseguimento dos preparativos militares e algumas divergencias sobre eles. Um documento do secretario-geral da ONU insiste mais em negociações políticas e seu enviado especial - o italiano Romano Prodi - afirmou que uma operação militar não será viável antes de setembro 2013; os Estados Unidos, pela voz do seu comandante militar para Àfrica, general Carter Ham, constata que a maior parte do efetivo oeste africano previsto para intervir no Mali, é composto por soldados treinados para manutenção de paz e não para ações ofensivas.

A França, a CEDEAO e o Presidente em exercício da União Africana, ao contrário, insistem na urgencia da ação militar.

Do outro lado do continente, prossegue a guerra somali, iniciada na década de 1980 com a queda da ditadura de Siad Barre após um conflito de configurações classicas com a Etiopia, então apoiada pela ex URSS e Cuba. Uma grande analogia de base se estabeleceu relativamente ao Afeganistão. Tal como neste país, os clans - grupos de familias que acreditam terem antepassados comuns - somalis ganharam dimensão de partidos políticos armados, chefiados por senhores da guerra. O caos e a violência instaurados, abriram espaço para a criação de formações políticas islamistas favoraveis ao jihadismo. Inicialmente, adotaram posturas de agrupamentos humanitarios e aplicadores da lei coranica. Taliban no Afeganistão, União dos Tribunais Islamicos (UTI) na Somália.

A UTI dividiu-se, tendo um largo setor aderido ao Governo Federal de Transição, apoiado pela União Africana e sua respectiva força militar, com um efetivo de cerca 17 mil homens. Alem disso, permanecem tropas etiopes em área importantes como Baidoa (perto de Mogadiscio) e tropas quenianas, no extremo sul, com relevo para o porto de Kismayo.

Da ala contraria ao Governo Federal de Transição na antiga UTI saiu o movimento Al Shebab, declaradamente integrado na constelação Al Qaida e que controla grande parte do país. Durante algum tempo ocupou mesmo Mogadiscio, de onde foi expulso pelas tropas etiopes. O importante porto de Kismayo só lhe foi reconquistado há poucas semanas, graças a uma operação anfibia, com presença destacada de unidades quenianas. Com alguma regularidade, as posições do Al Shebab são bombardeadas pela aviação norte-americana, com bases na vizinha Republica de Djibuti e na ilha de Diego Garcia. Os jihadistas somalis são suspeitos de terem papel de relevo nos atentados contra as embaixadas USA em Nairobi e Dar Es Salam, na década de 1990 e, mais recentemente, executaram um mortifero atentado na capital ugandesa, Kampala, alem de raptos no Norte do Quênia.

Esta semana, um grupo bem armado do Al Shebab atacou em pleno Puntland uma coluna de soldados locais, causando no mínimo dez mortos e varios feridos. Poucos dias antes, o novo Primeiro Ministro da Etiopia, em presença do recem eleito (em assembleia de chefes tradicionais ) Presidente do Governo Federal de Transição somali, Hassan Cheick Mahmoud, declarou que as tropas de seu país só retirarão da Somalia quando forem substuitídas por tropas da União Africana.

Dois dois lados do grande Sahel, a intervenção de forças sub-regionais aparece assim como a tendência dominante contra o jihadismo.

(*) Jonuel Gonçalves. Investigador en el Instituto de Estudios Estratégicos de la UFF (Río de Janeiro) y en el Centro de Estudios de la Educación y Desarrollo (Ondjiva, Angola). Sus libros más recientes son: A economia ao longo da Historia de Angola y Relato de guerra extrema. Desde Brasil escribe El blog de Jonuel. Publicaremos a partir de hoy algunas entradas simultaneamente (siempre que se pueda).

(**) Mapas de Mali (Min. Aff. Étrangéres, París) y Somalia (BBC).

(***) En los días en que se escribió este post el primer ministro de Mali dimitió tras ser detenido por militares que participaron en el golpe de Estado. Y la Casa Blanca buscaba poderes para la lucha antiterrorista en el Norte de Mali.

Comentarios

Interesantíssimo artigo!
¿Querem que traduza ao espanhol? Faría com muito prazer pois adoro o seu blogue e sou fiel seguidoura....
gostei de ler um texto em português além dos textos em espanhol e inglês. Muito legal seu blogue!
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