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Bachelet não consegue vencer no primeiro turno nas eleições no Chile

Ex-presidente socialista foi a primeira de nove candidatos, com 46,68% dos votos Evelyn Matthei, candidata da direita, teve 25,01% O segundo turno será em 15 de dezembro

Michelle Bachelet.
Michelle Bachelet.HECTOR RETAMAL (AFP)

Apesar dos prognósticos da centro-esquerda chilena e do otimismo da ex-mandatária socialista, Michelle Bachelet, a candidata da Nova Maioria não conseguiu vencer no primeiro turno das eleições presidenciais deste domingo: com 99,34% das urnas apuradas, a pediatra de 62 anos teve 46,68% dos votos e vai para o segundo turno com a candidata da direita, Evelyn Matthei, em 15 de dezembro, um domingo.

A candidata governista ficou em segundo lugar, com 25,01% dos votos. O resultado trouxe novas esperanças para os governistas: embora a ex-presidente tenha uma vantagem folgada de 21%, a direita estava preparada para uma derrota definitiva nas urnas.

Em terceiro lugar ficou o ex-socialista Marco Enríquez-Ominami, com 10,93% da preferência dos eleitores; o empresário independente Fraco Parisi ficou logo atrás, com 10,13%. Dos outros cinco candidatos, nenhum conseguiu passar de 3%.

Pela manhã, Bachelet estava confiante quando foi votar numa escola na zona oeste de Santiago: “Gostaríamos de vencer no primeiro turno porque há muita coisa para fazer”, afirmou a pediatra que governou o Chile de 2006 a 2010. À tarde, porém, os resultados descartaram a pretensão da centro-esquerda e os rostos no hotel San Francisco, onde se reuniram, eram de decepção.

Cerca de 13 milhões de chilenos foram convocados às urnas na primeira eleição presidencial e parlamentar de acordo com o novo sistema de inscrição automática e voto voluntário. Os últimos cômputos apontavam para uma participação de menos de 50%, abaixo das projeções das autoridades para as eleições que inauguraram o voto eletrônico e voluntário. Nas eleições presidenciais de 2009, quando o voto era obrigatório, 56,6% compareceram às urnas.

Para Bachelet era importante ganhar no primeiro turno, pois seria uma demonstração de força da sua agenda de reformas. A centro-esquerda conseguiu maioria nas duas câmaras, conquistando dois assentos no senado e dez deputados. Contudo, o resultado lhes impede de aprovar reformas que exijam quórum no Congresso.

Os candidatos do Partido Comunista, que pretende chegar ao governo pelas mãos de Bachelet após 40 anos na oposição, tiveram bons resultados e conseguiram dobrar o número de deputados, de três para seis. A ex-líder estudantil Camila Vallejo obteve os votos necessários e vai para o Congresso em março.

Uma novidade desta eleição foi o triunfo nas urnas dos ex-líderes estudantis das mobilizações de 2011: Vallejo e a comunista Karol Cariola, Giorgio Jackson, do movimento Revolução Democrática e Gabriel Boric, dos Autonomistas.

Foi a eleição mais polarizada em termos ideológicos desde o plebiscito de 1988, que selou a saída do ditador Augusto Pinochet. Para os analistas, neste comício estava em jogo o modelo de desenvolvimento futuro: na agenda desta campanha entraram em discussão grandes reformas políticas, econômicas e sociais, algo inédito nos últimos 25 anos.

O programa de Bachelet se apoia em três grandes pilares: reformas na educação e no regime tributário e uma nova Constituição. Com o peso dos protestos estudantis de 2011 nas costas, a líder da oposição propõe a gratuidade universal da educação universitária num prazo de seis anos e o fim do lucro em todo o sistema educativo que use recursos públicos. De qualquer modo, o Estado respeitará a existência de um sistema misto.

A pregunta que se fazem o setor empresarial, a direita e os próprios partidários de Bachelet é até que ponto ela quer levar o Chile à esquerda. Os que a cercam afirmam que ela pretende levar adiante um pacote de reformas profundas, mas de modo gradual, cuidando da governabilidade e sem renunciar aos acordos políticos com a direita no Congresso, que foi uma das marcas dos governos da ‘Concertación’ (1990-2010).

A ex-presidente quer evitar cenários de polarização e, segundo seus colaboradores mais próximos, não adota um tom revolucionário nem chavista. Bachelet está convicta de que o mal-estar e os protestos nas ruas em 2011 mostraram o término definitivo de um ciclo político que se prolongou por duas décadas e focado na superação da pobreza, e que o Chile agora deve se concentrar em trabalhar por uma maior equidade.

Os colaboradores da ex-presidente, porém, ressaltam que em hipótese alguma o seu programa de governo pretende abalar as bases do modelo chileno, uma economia de mercado herdada do regime de Pinochet. Os ‘bacheletistas’ indicam que ela pretende fortalecer a economia de mercado e aumentar a proteção social, como nos países nórdicos.

Tradução de Cristina Cavalcanti.

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