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Francisco lançará no Brasil o “evangelho social” para as Américas e o mundo

Juan Arias
Miles de peregrinos se preparan para la Jornada Mundial de la Juventud en Sao Paulo.
Miles de peregrinos se preparan para la Jornada Mundial de la Juventud en Sao Paulo.Sebastião Moreira (EFE)

O pontificado do primeiro papa não europeu e o primeiro nascido nas Américas vai decolar definitivamente na sua primeira viagem internacional, para o Brasil, de onde lançará na semana que vem o seu programa revolucionário, chamado “evangelho social”.

Francisco, que ocupou a cadeira de Pedro proveniente da “periferia da Igreja”, escolheu o seu continente de origem para apresentar o programa a um milhão de jovens vindos de toda parte do mundo e que são o emblema do futuro da Igreja e da sociedade.

Ele escolheu o Brasil, país com o maior número de católicos do mundo e que está saindo da pobreza, mas cujas veias ainda estão abertas devido à profunda desigualdade social, para se dirigir às periferias abandonadas e humilhadas do planeta e aos países emergentes que podem cair na tentação de colocar as suas riquezas nas mãos daqueles que menos as necessitam.

Amigos do papa Francisco asseguram que a importância que ele deu à visita ao Brasil, onde ficará uma semana, deve-se a que deseja apresentar ao mundo o seu programa de governo. E o fará diante de seis mil jornalistas enviados de todas as partes do mundo.

Até agora, nos primeiros quatro meses de pontificado, mediante a simbologia dos gestos e algumas afirmações importantes, Francisco esboçou a originalidade do seu pontificado, que ele quer centrar nos “esquecidos do planeta”, nos marginalizados e abandonados nas valas pela sociedade da opulência.

Logo no início, ele pediu que a Igreja não só se preocupasse com os pobres, mas que ela própria fosse pobre, e chegou a expressar tristeza ao visitar o estacionamento dos carros de luxo dos prelados do Vaticano, aos quais pediu austeridade como um exemplo de vida. Criticou as máfias abrigadas no Banco do Vaticano. Ele continua vivendo em um quarto de hotel, depois de renunciar aos aposentos pontifícios.

Ele foi se despojando dos símbolos do poder que por séculos afastaram o papa de Roma dos seus irmãos, os bispos da Igreja, e ainda não se refere a si mesmo como papa, mas como bispo de Roma, que é o que ele é.

Ele criticou a “tirania do dinheiro” e a “globalização da indiferença” pelos que sofrem.

No Brasil, ele abrirá a sua caixa de surpresas e apresentará o kit de identidade da Igreja que deseja para o continente americano e, portanto, para o resto do mundo. Há quem aposte que, depois dos seus discursos no Brasil, o catolicismo na América Latina não será mais o mesmo.

Enganam-se os que prognosticaram que o papa Francisco viria ao Brasil e à América Latina para “frear o avanço dos evangélicos” e favorecer os católicos. Francisco aspira a um programa para a Igreja muito mais rico e amplo, que sirva inclusive de estímulo a todas as demais confissões religiosas, as quais em breve ele vai convocar a Roma.

O papa está mais interessado no que as pessoas “fazem pelos outros”, principalmente os desfavorecidos pela sorte, do que nas suas crenças.

A sua visão do futuro da Igreja com que sonha não passa pelas antigas teologias, nem pela teologia da libertação, que nasceu em terras latino-americanas como um antídoto contra as injustiças sociais e que se inspirava socialmente nas ideias do Capital de Marx.

A revolução que Francisco vai apresentar no Brasil ele buscou no cristianismo de dois mil anos atrás, dos lábios do profeta Jesus que, contra as teologias excludentes dos doutores da lei do seu tempo, proclamou a boa-venturança dos pobres, dos que têm fome e sede de justiça, dos fazedores da paz, dos desprezados pela sociedade abastada.

A teologia que Francisco predicará é a do “evangelho social” do cristianismo, que não é ideológico, mas prático.

Há algumas semanas ouviu-se dos seus lábios o eco do que será a mensagem verdadeira e definitiva do seu pontificado, quando, na periferia da Itália, recordando o drama dos imigrantes ilegais que arriscam a vida em busca de trabalho, se perguntou quem “chora por eles” no mundo e na Igreja.

Na idílica praia de Copacabana haverá uma via crucis representada por artistas. Os que conhecem o papa Francisco de perto alertaram que, naquele cenário quase irreal da Paixão de Cristo, ele falará aos jovens de todo o mundo sobre as “novas feridas do crucificado”, as “veias ainda abertas na sua carne” pelas injustiças sociais que convivem com a opulência do consumismo mundial.

Há quinze dias, Francisco antecipou em parte o que dirá no Rio: “O corpo do teu irmão está ferido porque tem fome, tem sede, está nu, humilhado, porque é um escravo, porque está preso, porque sofre num hospital”. E acrescentou: “Estas são as feridas de Jesus hoje em dia”.

Ele quer que esta seja a nova revolução social da Igreja, com menos firulas teológicas e ideológicas e mais encarnada no irmão que sofre. Irmão que pode ser uma pessoa, um animal, um bairro, uma cidade ou um continente.

Os bispos brasileiros dizem que a mensagem do programa de Francisco servirá para crentes e agnósticos, para os que dizem se inspirar no evangelho das boas-venturanças, para os crentes de qualquer deus, pois não há fé que não esteja fundada no respeito e na ajuda ao irmão necessitado.

Neste contexto, não surpreende que o papa Francisco tenha confirmado que estará junto aos jovens brasileiros que estão indo às ruas pedir mais justiça social e melhor qualidade de vida para todos.

Por isso, ele não quer estar blindado nos encontros com as gentes. Quer olhá-las nos olhos sem o filtro dos vidros à prova de bala e sem militares armados. Ao seu amigo Abraham Skorka, rabino de Buenos Aires, Francisco tinha dito que “não tem medo de morrer”.

Tradução: Cristina Cavalcanti

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