_
_
_
_

“É um protesto político, e não do povo”

Moradores de São Paulo tomam medidas para driblar a greve Condutores do metrô e ônibus ignoram a mobilização

María Martín
Sebastião Moreira (EFE)

Os sindicatos brasileiros quiseram aproveitar a insatisfação generalizada que há um mês lota as ruas do país e convocaram grandes manifestações populares – o Dia Nacional de Luta – mas o resultado não foi como o esperado. “Ameaçaram bloquear nove estradas e só bloquearam duas. Fazia dois anos que não convocavam uma greve tão grande, mas está tudo normal. Isto é um protesto de partidos, e não do povo, como os outros”, disse ontem Adailton, 40 anos, em São Paulo.

“Hoje eu cheguei bem cedinho. Levantei duas horas antes para chegar a tempo, porque todo mundo dizia que a cidade ia parar e fui a primeira a chegar”, lamentou Michelle Ramiro, gerente de uma lanchonete.

Os principais problemas ocorreram no interior e no litoral do estado de São Paulo, onde por mais de seis horas os sindicatos conseguiram bloquear algumas estradas, polígonos industriais e a entrada de portos importantes, como o de Santos. Os grevistas pertencem principalmente aos setores metalúrgico, portuário, petroleiro e bancário e, entre outras coisas, exigem a redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais.

Na avenida Paulista, principal artéria urbana da cidade e cenário das grandes passeatas contra o aumento das tarifas de transporte, cerca de 2.000 mil manifestantes, segundo cálculos da Polícia Militar, pararam o trânsito por horas nos dois sentidos.

Na véspera da greve, o clima levou a pensar em um dia caótico, mas a negativa dos motoristas de ônibus e condutores do metrô a se unirem à greve esvaziou as manifestações na cidade, como reconheceu João Carlos Gonçalves, secretário da Força Nacional, uma das centrais organizadoras. Ainda assim, muitos decidiram ficar em casa, de empregadas domésticas a executivos de multinacionais.

As empresas sugeriram aos empregados que ficassem em casa, como aconteceu no último mês de manifestações e protestos sociais: “A recomendação é que os profissionais de São Paulo não venham ao escritório. Por isso, se for possível, preparem-se para trabalhar à distância”, dizia uma circular numa importante consultoria internacional. “Hoje está deserto, a maioria decidiu não sair para não se arriscar. Alguns chefes não descontam o dia se você faltar”, contou César Araújo Correa, jornaleiro em uma estação de ônibus do centro, mostrando a pilha de jornais encalhados.

Conocer lo que pasa fuera, es entender lo que pasará dentro, no te pierdas nada.
SIGUE LEYENDO

“Avisei às patroas que não ia poder trabalhar. Eu vivo em Guarulhos e seria impossível chegar ao centro com tudo parado”, explicou Wilma Martins da Silva, empregada doméstica de 64 anos que fez uma maratona para cumprir o horário. “Deu tudo certo e cheguei a tempo, mas não foi fácil. Vim de carro até a entrada da cidade, aguentei o trânsito de sempre, tomei o trem e depois o ônibus. Ainda bem que funcionaram”, contou a senhora enquanto esperava o ônibus para fazer faxina numa terceira casa.

As primeiras análises da jornada indicavam que os sindicalistas não tinham sabido aproveitar a indignação das ruas. “A relação [de desconfiança] com os políticos e dirigentes sindicais, ligados a diferentes partidos e ao governo, explica o número tão baixo de pessoas nas ruas até agora, comparado com o contingente nas mobilizações do Movimento Passe Livre [que reivindicava a redução das tarifas de transporte]”, afirmou Marco Antônio Carvalho Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas, à Folha de São Paulo.

Tradução: Cristina Cavalcanti

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Sobre la firma

María Martín
Periodista especializada en la cobertura del fenómeno migratorio en España. Empezó su carrera en EL PAÍS como reportera de información local, pasó por El Mundo y se marchó a Brasil. Allí trabajó en la Folha de S. Paulo, fue parte del equipo fundador de la edición en portugués de EL PAÍS y fue corresponsal desde Río de Janeiro.
Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_