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O gigante encolheu

O descenso de Eike Batista, empresário que foi dono da sétima fortuna do mundo, reflete o mal momento do Brasil

Francisco Peregil
Eike Batista e Dilma Rousseff.
Eike Batista e Dilma Rousseff. / RICARDO MORAES (REUTERS)

 Um dos lemas mais ouvidos durante os protestos no Brasil faz alusão aos enormes recursos do país: “O gigante acordou”. Porém, depois de um longo sono nem sempre as notícias são o que se quer ouvir. Sexta economia mundial, até pouco tempo o Brasil tinha um milionário à sua altura. Ele se chama Eike Batista, tem 57 anos e em 2012 era o homem mais rico do Cone Sul e o sétimo do mundo. Naquele ano, segundo a revista Forbes a fortuna dele era de 22.847 milhões de euros.

Batista é presidente da EBX, um grupo de cinco empresas que abarca os setores da construção, energia, mineração, indústria naval, entretenimento e, principalmente, gás e petróleo. Mas a joia da coroa era a OGX, a companhia de exploração energética que ele fundou em 2007 e em apenas cinco anos gerou dois terços da sua fortuna. Contudo, o seu império vem ruindo em um ritmo estonteante que, de certo modo, prejudica e aprofunda o estancamento da economia brasileira.

Em março de 2012, Batista ainda figurava entre as oito pessoas mais ricas do mundo, segundo a agência Bloomberg. Ele pretendia ser o primeiro, na frente no mexicano Carlos Slim. Era quando deslumbrava os seus sócios assegurando-lhes que tinha feito um pacto com a natureza. Em maio passado ele saiu da lista dos 100 mais ricos e em 12 de junho saiu da lista dos 200. Então, a sua fortuna se reduziu a 4.600 milhões de euros. E continua diminuindo.

Na semana passada, a OGX emitiu um comunicado afirmando que o seu único campo petrolífero em produção, Tubarão Azul, na Bacia de Campos, pode parar de produzir petróleo em 2014. Outros três campos, localizados na mesma área, foram considerados inviáveis pela empresa, com o pretexto de que não existe “tecnologia capaz de tornar o seu desenvolvimento economicamente viável”. A notícia fez as ações da empresa despencarem mais de 27 pontos percentuais, arrastando também a Bolsa de São Paulo.

“Há muito a explicar sobre o colapso do campo Tubarão Azul”, comentou ontem Miriam Leitão, colunista do jornal O Globo. “Em maio do ano passado, a empresa entregou a ‘declaração de comercialidade’ do campo à Agência Nacional de Petróleo. Se era comercial há um ano, como é possível que agora descubra que não há tecnologia que torne viável uma inversão adicional?”

Em 2010, o crescimento do Brasil era de 7,5% do Produto Interno Bruto; em 2012, foi de 0,9%. No entanto, o país continua sendo uma potência, quase sem desemprego, e espera-se um crescimento de 2,5% para este ano. O destino de Batista, porém, parece menos promissor.

Parece distante o tempo em que ele se apresentava aos jovens empresários do seu país como o modelo de “um novo capitalismo que não tem vergonha de mostrar o dinheiro que possui”. No entanto, há apenas um ano e meio, em janeiro de 2012, a revista mais lida do país estampou o seu rosto na capa e assegurou: “A reportagem desta edição de Veja captura este momento especial de glorificação da riqueza produzida com trabalho, honestidade, investimento pessoal e coragem de correr riscos”.

Batista tem uma conta no Twitter com mais de 1,3 milhões de seguidores e 21.686 tuites. Até o meio-dia de terça-feira, porém, ele tinha passado seis dias sem escrever mensagens.

No domingo, 23 de junho, o New York Times publicou uma reportagem sobre Batista afirmando que a sua ascensão e queda refletiam os reveses da fortuna vividos pelo Brasil. O jornal recordava que o empresário emblemático do poderio brasileiro havia recebido mais de quatro bilhões de dólares de bancos estatais em créditos de investimentos.

Filho do engenheiro brasileiro Eliezer Batista, ministro de Minas e Energia na década de 1960, e de uma alemã de quem diz ter herdado a autoestima e a disciplina, Batista passou a adolescência com os pais entre a Suíça, a Bélgica e a Alemanha. Aos 21 anos criou uma empresa que comprava ouro extraído de minas na Amazônia. Em 18 meses já havia acumulado seis milhões de dólares e comprou a primeira de suas oito minas. Deste então, até menos de dois anos atrás, o vento sempre soprara a seu favor e a sua fortuna não parava de crescer. Agora, trata-se de esclarecer se o gigante da economia brasileira manteve os investidores e as autoridades bursáteis informados com o rigor e a transparência devidos.

Tradução: Cristina Cavalcanti

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Sobre la firma

Francisco Peregil
Redactor de la sección Internacional. Comenzó en El País en 1989 y ha desempeñado coberturas en países como Venezuela, Haití, Libia, Irak y Afganistán. Ha sido corresponsal en Buenos Aires para Sudamérica y corresponsal para el Magreb. Es autor de las novelas 'Era tan bella', –mención especial del jurado del Premio Nadal en 2000– y 'Manuela'.
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