Entrevista con Cláudio Couto

Cientista Político da FGV-EAESP

Cláudio Couto

1Laura06/10/2014 08:15:25

Boa tarde, tudo bem? Qual é a avaliação do senhor a respeito do número de abstenções, votos nulos e brancos nestas eleições, que somam 29% dos votos?

Esse números não são muito superiores aos de eleições passadas, quando tínhamos algo como % de abstenções e algo pouco abaixo dos % de brancos e nulos.

2Marina06/10/2014 08:16:30

Porque você acha que os três deputados mais votados no estado de SP são os candidatos mais anti-direitos humanos?

Porque esses candidatos têm um nicho próprio de atuação, que a...

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1Laura06/10/2014 08:15:25

Boa tarde, tudo bem? Qual é a avaliação do senhor a respeito do número de abstenções, votos nulos e brancos nestas eleições, que somam 29% dos votos?

Esse números não são muito superiores aos de eleições passadas, quando tínhamos algo como % de abstenções e algo pouco abaixo dos % de brancos e nulos.

2Marina06/10/2014 08:16:30

Porque você acha que os três deputados mais votados no estado de SP são os candidatos mais anti-direitos humanos?

Porque esses candidatos têm um nicho próprio de atuação, que atrai uma parcela do eleitorado sedenta por esse tipo de política. Eles são os mais votados, mas não compõem a maioria dos parlamentares.

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3Anónimo06/10/2014 08:17:48

O PSOL praticamente dobrou o número de votos em relação à eleição de 2010. Eduardo Jorge teve mais de 600 mil votos. Qual a leitura que o senhor faz desse resultado? E qual a projeção para o futuro do PSOL?

Creio que esses números não têm grande importância. O PSOL tinha ,%, foi para ,%. Dobrou em relação a um número tão diminuto, que isso em nada modifica o desempenho do partido. Deve-se ao maior carisma da candidata desta eleição e ao desgaste do PT com um setor do eleitorado de esquerda.

4Julia 06/10/2014 08:19:15

Por que o senhor acha que o desejo de mudança, expresso nos protestos de 2013, não se refletiu nas urnas?

Porque a mudança, para se concretizar, depende não só da demanda, mas também da oferta. Se as alternativas oferecidas ao eleitorado não eram atraentes, as pessoas optaram por ficar com aquilo que já conheciam e de que desconfiavam menos.

5Thiago Ferrer06/10/2014 08:20:20

Com os resultados do Congresso já na mão, qual dos dois candidatos teria menos dificuldades em articular uma base aliada? Qual é o candidato que teria que sacrificar menos do seu programa para obter uma maioria?

Creio que as dificuldades se equivalem, pois o voto decisivo é o dos partidos de adesão, ou seja, PMDB e congêneres. Nem PT, nem PSDB, são sozinhos suficientes para definir o pêndulo da coalizão.

6Paula06/10/2014 08:21:38

Porque o governador Alckmin teve tamanha porcentagem de votos frente a todos os problemas que o estado enfrenta, em especial na questão da (falta de) água?

Porque os candidatos de oposição não conseguiram apresentar um discurso alternativo que se mostrasse, ao eleitorado, mais atraente do que o de Alckmin. Ademais, a força do governo estadual vem sobretudo do interior, onde os problemas são menos graves que na região metropolitana. De qualquer modo, Alckmin ganhou em todos os lugares.

7Guilherme06/10/2014 08:23:31

Quão confiáveis são as pesquisas realizadas antes das eleições de primeiro turno? Não é estranho que durante toda a campanha Marina tenha estado em segundo lugar e na votação esse resultado tenha se invertido em prol de Aécio?

As pesquisas são confiáveis e sua metodologia é correta. O que ocorre é que as pesquisas medem o passado, não o futuro. Quando uma eleição tem movimentos de última hora, o que decorre do próprio processo de competição eleitoral, fica mais difícil divisar as tendências ou, ao menos, sua intensidade.

8Anónimo06/10/2014 08:24:42

O que os resultados das urnas falam sobre os rumos do PT? É possível falar em um cansaço do eleitorado com o partido governista?

Há certamente um cansaço em relação ao PT por uma grande parte do eleitorado, o que se expressa na avaliação do governo, nos resultados das eleições para o Congresso e em algumas disputas estaduais. É a velha e conhecida "fadiga de material" que os anos de governo causam.

9Anónimo06/10/2014 08:26:28

Creio que no caso paulista o que houve foi a fraqueza dos adversários. Não só Alckmin ganhou, mas eles perderam, pois não conseguiram contrapor-se a ele de forma convincente. Quanto a Minas Gerais, também houve um problema de candidatura. Pimenta da Veiga era um candidato muito pouco atraente para o grosso do eleitorado, enquanto o inverso ocorria com Pimentel.

10Marcia Fasano06/10/2014 08:27:57

Você atribui a não reeleição do Suplicy ao senado pelos paulistanos (maioria da classe média) a um asco ao PT?

Creio que há muitos eleitores paulistas que têm asco ao PT e isso leva à rejeição de seus candidatos. Por outro lado, Suplicy foi por anos um Senador certo nas eleições. Houve por parte dele, como por parte de outros candidatos petistas no Estado, uma fadiga de material. O desgaste do governo Dilma e da Prefeitura de Haddad (embora esta esteja iniciando uma recuperação) apontam na mesma direção.

11Felipe Furcolin06/10/2014 08:29:35

Caro professor, de que forma o sr. vê a ausência das "vozes da rua" nessa eleição? Seria um sinal de que tais "vozes" buscam atuar de forma não institucionalizada ou mera desorganização?

Concordo que as vozes das ruas são desorganizadas e não institucionalizadas. Isso, em parte, é sua vitalidade. Por outro lado, é também sua fraqueza. Para ganhar as eleições é preciso se institucionalizar e organizar. Ademais, as vozes das ruas eram muito diversificadas e fragmentadas. Havia de tudo ali. Por fim, as vozes das ruas não são as vozes das urnas, pura e simplesmente.

12William06/10/2014 08:30:44

Olá Claudio! Gostaria de saber se após as manifestacoes de 2013, você acredita que os principais candidatos se comprometerão, ou melhor, farão a reforma politica tão necessaria ao Brasil?

"Reforma política" é um chavão sem conteúdo específico, que pode significar de tudo, inclusive coisas antagônicas. A única coisa que une as várias ideias é a noção de que se reformará. Mas uma reforma pode servir para derrubar paredes ou para ergue-las.

13Marina06/10/2014 08:33:38

Porque a adesão a Aécio em Minas foi tão baixa em comparação a São Paulo?

Porque Minas Gerais sempre foi mais favorável aos candidatos do PT do que aos do PSDB nas eleições presidenciais, enquanto em São Paulo sempre ocorreu o contrário. Isso não foi diferente com Aécio do que havia sido com Serra e Alckmin, apesar de esses e seus apoiadores acreditarem que Aécio os sabotara nas eleições presidenciais de e . Ficou claro que não se tratava disto.

14Mariana Mesquita06/10/2014 08:36:00

Como o senhor vê a estrondosa votação de candidatos da bancada conservadora (ligados a igrejas evangélicas ou ao núcleo da "bala")? O Brasil está guinando à direita?

Os anos do PT no governo, ao favorecerem o aumento da polarização esquerda-direita, potencializado por setores direitistas da mídia (publicistas, blogueiros e apresentadores) facilitou à direita mais extremada sair do armário. Num momento ou em outro isso redundaria também em resultados eleitorais. São esses os que vemos agora. Ademais, há também o fenômeno religioso, em particular do pentecostalismo conservador, que corre em raia própria e leva ao surgimento dos candidatos pastores. Ambos os grupos por vezes se superpõem, por vezes se confundem.

15Cacao06/10/2014 08:38:22

Seria o Maranhão o único Estado "Gigante que despertou" elegendo o PCdo B e desbancando a oligarquia Sarney?

O Maranhão experimentou um momento de esgotamento da velha oligarquia e seus representantes e o cansaço de seus eleitores com relação a ela se manifestou. Contribuiu para isto também um candidato de oposição consistente, bem apoiado e com discurso claro, que conseguiu tematizar os problemas do estado de forma compreensível para o eleitorado. Foi o mesmo processo que ocorreu na Bahia há quatro anos, embora lá o controle da oligarquia não fosse tão drástico, nem os indicadores sociais e econômicos tão ruins. Só que, normalmente, a modernidade maior ajuda a haver maior competição política.

16Paula06/10/2014 08:39:00

Qual a expectativa da economia paulista para os próximos quatro anos?

Creio que deva acompanhar o ritmo da economia brasileira. Tudo dependerá do sucesso do próximo governo em retirar-nos do atoleiro. Mas deverá ser um ano difícil de qualquer forma.

17Rodrigo Oliveira 06/10/2014 08:40:42

Cláudio, boa tarde. Se a Marina apoiar algum dos candidatos no segundo turno, isso não seria uma contradição ao seu discurso de ser a "terceira via"? E quem ela deve apoiar? Obrigado

Creio que seria em parte. Pelo tanto que apanhou e pela necessidade de forjar uma identidade própria, que lhe permita construir seu próprio partido, Marina teria na neutralidade crítica a ambos a sua melhor opção estratégica no médio e longo prazos. No curto prazo creio que faria mais sentido que apoiasse a Aécio Neves, pelas críticas que têm ao PT e a sua política econômica. Poderia, neste caso, condicionar seu apoio ao respeito a uma determinada agenda social e de sustentabilidade.

18Juan06/10/2014 08:42:42

Boa tarde. Escrevo desde a Espanha. Soube há alguns dias que votar no Brasil é dever -nao direito- do cidadao. O senhor concorda com essa obligatoriedade? Por que? Obrigado.

Caro Juan, votar no Brasil é tanto direito como dever. Essas coisas não são contraditórias. A obrigatoriedade do voto tem dois fins. Primeiro, proteger os eleitores socialmente mais excluídos da exclusão eleitoral. Segundo, fazer com que o que é um direito democrático seja também um dever republicano. Democracia e república caminham juntos nesse caso. Em países onde há voto facultativo é comum que os eleitores mais excluídos do processo sejam os mais excluídos eleitoralmente.

19Juliana C.06/10/2014 08:44:29

Como você vê a reeleição? Acha que é uma boa coisa, ou que deveria acabar?

Considero a reeleição, com limites, um excelente instituto. Isso porque possibilita ao eleitor ter mais uma opção (a de reconduzir o governo), muitas vezes não trocando o certo pelo duvidoso, além de fazer com que o governante seja mais responsável, pois herdará no segundo mandato o que ele mesmo fizer no primeiro. Não vejo porque acabar com ela, senão por demagogia ou acerto de espaço entre lideranças políticas que barganham sua própria sucessão.

20Joaquim06/10/2014 08:45:36

A poucos dias das eleições, a maior parcela da população ainda não sabia em quem votar para deputado federal e estadual. De que forma os votos decididos às pressas prejudicam a democracia e o que fazer para reverter esse quadro?

Qualquer decisão feita às pressas é prejudicial, pois se dá com pouca informação e reflexão. O mesmo vale para as eleições parlamentares. Creio que nosso sistema eleitoral de lista aberta, com um número imenso de candidatos e, consequentemente, sobrecarga de informações, contribui para isto.

21Felipe06/10/2014 08:46:29

Boa tarde Cláudio. Um dia antes do primeiro turno, as pesquisas davam pro Aécio entre 24% e 26% dos votos e uma disputa apertada com a Marina por uma vaga no segundo turno. No final, acabou com 34% e Marina 21%. Os institutos também erraram algumas previsões para governador. O que aconteceu? Por que erraram tanto? Se trata de algum erro na metodologia das pesquisas que deverá ser corrigido? Ou houve um disparo do Aécio nos últimos dias que não conseguiram captar? Obrigado.

O que houve foram mudanças de última hora, como já respondi noutra questão. É impossível detectar informações de última hora, sobretudo guinadas. Pesquisas medem passado, não futuro.

22Anónimo06/10/2014 08:47:10

Boa tarde, professor. A Lei do Ficha Limpa funcionou em 2014? Qual sua avaliação?

Funcionou, ao menos nos casos mais notórios, como de Maluf e Arruda. Apenas um detalhamento mais cuidadoso dos casos menos célebres poderá oferecer um balanço mais avalizado.

23Rodolfo06/10/2014 08:48:36

Qual foi o resultado mais surpreendente desta eleição, na sua avalição?

A meu ver foi o do Rio Grande do Sul, onde ocorreram duas viradas e uma disparada incrível do terceiro colocado na última hora. O governador Tarso Genro já havia realizado um feito com sua reação (pois é um estado onde nunca houve um governador capaz de fazer o sucessor ou reeleger-se desde ), mas terá agora de ter uma nova reação, que me parece muito difícil.

24Du06/10/2014 08:49:31

O que será de Marina Silva agora? A Rede deve prosperar? Podemos esperar a volta de Marina, com força, em 2018?

Tudo dependerá do quão bem sucedida ela for na construção de seu partido e na apresentação de uma imagem crível e mais consistente ao eleitorado - imagem dela e do partido. Se trabalhar bem com isto, pode regressar em .

25Roberto F. 06/10/2014 08:50:28

Boa tarde, professor. Na sua opinião, um eventual apoio do PSB e da família do Eduardo Campos ao Aécio Neves pode fazer alguma diferença para o candidato, que teve uma votação inexpressiva em Pernambuco?

Apoios como esses sempre ajudam, mas não definem a eleição, pois o eleitor decide independentemente do que lhe dizem os caciques, na maior parte dos casos. Fosse um apoio de um ocupante do cargo para sua própria sucessão, isso seria diferente e haveria maior peso.

26Bianca 06/10/2014 08:51:41

O que esperar de 2018? O movimento do volta Lula deve crescer? E no PSDB, o Alckmin deve ser candidato à Presidência ou vai haver briga?

Se Aécio ganhar, Alckmin estará fora do jogo presidencial em (exceto se seu governo for ruim). E ocorra o que acontecer, o "volta Lula" ganha força para , pois a vaga do PT estará disponível para um outro candidato, sendo que nenhum é mais forte que Lula.

27Bruna06/10/2014 08:52:10

O que será de Marina Silva agora? Ela volta forte em 2018? A Rede deve sair do papel?

Como já respondi, se Marina Silva organizar bem a Rede, terá pontecial para .

Mensaje de Despedida

Prezadas e prezados, foi um prazer ter esta troca de ideias com vocês. Agradeço-lhes muito pela atenção e pelas perguntas.